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Talvez meu coração que seja colorida demais...

Desde que me conheço por gente, escrevo sobre meus sentimentos. Desde os mais bobos sobre a menina que oitavava tudo o que canta até os mais "bem vistos" pela sociedade onde disserto entre minhas melodias as partes boas e ruins do nosso amado país tropical, enfim. Componho. E não é preciso um dicionário para entender o quão sentimentais são minhas composições, o que por um lado é algo ótimo quando as pessoas se identificam e se enxergam nos personagens das minhas músicas, porém tudo tem um preço. Talvez este preço não seja pelas notas que colorem minhas harmonias, destas cores as pessoas não reclamam, e sim por uma única cor. A cor mais antiga que enxergo, e provavelmente a cor que mais enxergarei durante toda a minha vida: o marrom.Cor da qual é muito bem desejada dentro de um pote de Nutella e de uma embalagem de barras de chocolate, porém é uma das menos desejadas entre o padrão Malhação de qualidade.

Nunca fui muito bom, digo, na realidade nunca soube como "dar idéia" ou "xavecar" alguém da qual estive afim. Sendo criado por mulheres, na minha cabeça era (e ainda é) mais fácil e divertido criar contos de fadas onde a princesa simplesmente aparece e vivem felizes para sempre, só que não. Lembro da época em que fazia parte de uma banda de Pop Rock (até que conhecida entre as pessos do bairro), após descermos do palco para agradecer e comprimentar as pessoas, o discurso se repetia: Ela: "Oi, adoro suas músicas, você é tão fofo" Eu: "Ah, obrigado. Prazer, eu sou o R..." Ela: "Qual o nome do seu baixista? Você pode me passar o MSN dele?"

Após um curto silêncio de 2 mins, os quais corroiam meu coração em pedaços feito aquele galão de elemento químico que o Walter White usava para derreter os corpos das pessoas que ele assassinava, respondi: -"...Aham, eu te passo depois"

Vi esta cena se repetir inúmeras vezes por semanas, meses e anos. E então, me via confuso em frente ao espelho, tentando duplicar minhas qualidades, tentando melhorar minha maneira de falar, de agir. Tentei ser mais engraçado, daqueles que vivem sorrindo o dia todo e inventando piadas criativas pra fazer surgir sorrisos. Tentei ser mais sincero, tentei mudar o cabelo, deixei a barba crescer...mas, o discurso se repetia, com pequenas mudanças.

Cabelos curtos, cabelos longos, olhos gigantes, olhos puxados, um metro e sessenta e quatro, um metro e oitenta e dois, cachos vermelhos, cabelos lisos, óculos, lentes de contato...Nunca fui de seguir padrões, talvez pelo fato de me apaixonar pelo interior das mulheres, pelos sonhos e objetivos de cada uma, de formas totalmente diferentes. Via e sempre vejo múltiplas cores em cada uma delas, pena que a maioria delas enxergava apenas o marrom, que talvez as impedisse de enxergar minhas outras cores.

Talvez meu coração seja colorida demais...


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